Moçambique e Angola, quem dança/canta a música do outro em casa alheia?

1. MOÇAMBIQUE É UMA PASSARELA MADE IN ANGOLA?

O debate sobre a cultura moçambicana, concretamente sobre a nossa música já atingiu contornos de algum cansaço, pois, são os mesmos assuntos sem soluções concretas. Mas, penso que não me podia calar perante os últimos sinais que enfermam a nossa música.

Depois de Yuri da Cunha ter estado no país para comemorar o que se chamou de mais um ano de carreira, esteve aqui há dias Puto Português para comemorar os propalados 10 anos de carreira, com direito a uma publicidade feita com pompa e circunstância na STV em horário nobre que até chegava a cansar.

Do mesmo jeito teremos agora a vinda da Yola Semedo que (mais uma vez) escolheu o nosso país para comemorar os seus 30 anos de carreira e lançamento do álbum "Filho meu". Igual a Puto Português, mas com mais expressividade, pois, esta parece que virá mesmo residir por cá, pois, terá para si e seus elementos da bagagem mais de três shows com uma nata de convidados que vão actuar em Maputo, Beira, Quelimane e Nampula.

Igual ao Yuri da Cunha, Puto Português e Yola Semedo, parece que Bang não quis ficar ultrapassado nessa maratona e vai trazer a prestigiada "Team de Sonhos" para MOÇAMBIQUE em Setembro próximo. Contudo, há aqui um dado curioso nisso tudo, o facto é que se promovem esses shows e lançam-se nomes de artistas que muitas das vezes depois não actuam e pedem desculpas nas vésperas do evento enquanto já se venderam os bilhetes. Outrossim, noto com alguma persistência que muitos dos artistas moçambicanos que actuam nesses shows são sempre, sempre, sempre os mesmos.

Não quero condenar quem promove estes concertos, pois, o fazem para ganhar dinheiro e nada mais. Ademais, os Angolanos cantam e tem o seu valor nacional e internacional, mas, cabe a nós (moçambicanos) fazer a nossa parte, Governo, artistas, fãs, radialistas e apresentadores.

Dito isto, este é um caso para questionar: será que o país é assim tão apetecível, ou os Angolanos descobriram uma forma fácil de fazer dinheiro?

2. A "ANGOLANIZAÇÃO" DAS LINHAS AÉREAS DE MOÇAMBIQUE

De seguida quero falar em torno da estrondosa, repito, estrondosa campanha que a nossa companhia de bandeira está a fazer pela promoção de Angola e de seus derivados, digo, seus artistas.

O facto é que a página de Facebook das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) ganhou uma roupagem “Angolanizada”, ou seja, desfilam ali apenas “boas novas” vindas da terra de José Eduardo dos Santos. Se me dissessem que a Yola Semedo é a cara das LAM vos confesso que não ia admirar, pois, a página teve (inclusive) direito a pagamento no Facebook, ou seja, as publicações sobre a Yola Semedo são patrocinadas.

Dia e noite são actualizações nessa página a falar dos mais de dois concertos da Yola Semedo em Moçambique. Vimos (igualmente) uma pomposa recepção de membros das LAM a receber a artista com champagne e mais alguma coisa.  Ademais, antes mesmo da vinda da Yola, as LAM nos brindou com a tarifa de ida e volta para Luanda pelo valor simbólico, nada mais e nada menos que 14.881 Meticais, ou seja, está mais barato ir a Luanda do que ira para algumas províncias deste Moçambique.

Alguns dirão aqui, isso é “Business”, e negócio o que está as LAM a fazer, mas, paremos para pensar que exemplo de patriotismo e de bandeira Moçambicana está a tentar nos transmitir as LAM? A quem representa as LAM, e como estarão a se sentir os artistas moçambicanos perante isto?

Podem as LAM vir agora dizer que também patrocinam artistas nacionais, mas, eu pergunto, esse patrocínio vai até que nível?