Intervenção na Gala da STV para a atribuição do galardão do “Melhor de Moçambique”
"Pensei
bastante se estaria ou não presente nesta cerimónia. A razão para essa
dúvida era a seguinte: há três dias a minha família foi alvo de várias e
insistentes ameaças de morte. Essas ameaças persistiram e trouxeram
para toda a nossa família um clima
de medo e insegurança. A intenção foi-se revelando clara, depois de
muitos telefonemas anónimos: a extorsão de dinheiro. A mesma criminosa
ameaça, soubemos depois, já bateu à porta de muitos cidadãos de Maputo.
Poderíamos
pensar que essas intimidações se reproduzem a tal escala que acabam por
se desacreditar. Mas não é possível desvalorizar este fenómeno. Porque
ele sucede num momento em que, na capital do país, pessoas são raptadas a
um ritmo que não pára de crescer. Esses crimes reforçam um sentimento
de desamparo e desprotecção como nunca tivemos nos últimos vinte anos da
nossa história.
Esses que
são raptados não são os outros, são moçambicanos como qualquer outro
cidadão. De cada vez que um moçambicano é raptado, é Moçambique inteiro
que é raptado. E de todas as vezes, há uma parte da nossa casa que deixa
de ser nossa e vai ficando nas mãos do crime. Neste confronto com
forças sem rosto nem nome, todos perdemos confiança em nós mesmos, e
Moçambique perde a credibilidade dos outros.
Esses
sequestros estão nos cercando por dentro como se houvesse uma outra
guerra civil, uma guerra que cria tanta instabilidade como uma qualquer
outra acção militar, qualquer outra acção terrorista.