terça-feira, 3 de março de 2015

Patrocínios desgraçam a nossa música

A INDÚSTRIA da cultura, mais concretamente a música, tem crescido nos últimos anos em Moçambique, e consequentemente o país tem se mostrado como um espaço fértil onde a realização de grandes eventos artísticos, entre festivais e tournées de artistas internacionais ganha maior ímpeto ano após ano.

Moçambique é igualmente preferido por muitos artistas da diáspora, mais concretamente Angola e África do Sul, mas o sentido inverso não acontece, ou seja, poucos, mas muito poucos são os artistas moçambicanos que se deslocam para estes países com o intuito de realizar um concerto musical pelas variadas razões que amplamente as conhecemos.
O que me proponho a abordar neste artigo tem a ver com a forma como tem sido conduzida a nossa indústria da música na última década. A nossa música encontra-se nas mãos de duas grandes operadoras de telefonia móvel, nomeadamente a mcel e a Vodacom que ano após ano foram nos mostrando a sua pujança de mobilização através da contratação de artistas para as suas montras publicitárias e não só.

Não me proponho a mencionar nomes, mas tem sido visível que a mcel e a Vodacom disputam vezes sem conta os mesmos artistas, saindo do campo meramente comercial que se pressupõe que seja a venda de seus produtos e serviços aos clientes para um campo que se alia a cultura. Sem dúvidas que muitos desses produtos só podem vender se tiver uma cara mobilizadora que muita das vezes são esses artistas que soam endossados por essas operadoras.

Mas, o que há de errado nesse processo todo é o sentimento excludente que a prática adoptada por estas duas operadoras causou nos últimos anos. Ora vejamos, hoje em dia encontramos um grupo de artistas que não pode ser convidado para determinados eventos em virtude destes terem o patrocínio de uma operadora diferente, e nem podem actuar em determinados espaços. Contudo, mesmo sabendo que os artistas precisam destes patrocínios, não pode ser prática dividir a cultura moçambicana em nome de um agenciamento, embora exista no meio destes, aqueles que mesmo sem pertencer a nenhuma operadora desfilam a sua classe em todo tipo de concertos organizados tanto por uma ou outra operadora.

A título de exemplo, a Vodacom patrocinou um grande evento cultural no fim de semana que na sua óptica refere que contou com os melhores artistas da actualidade, mas se formos a fazer uma análise minuciosa ao leque de artistas, iremos perceber que faltaram ali alguns nomes que não estiveram presentes não pelo facto de não serem da actualidade, mas sim, pelo facto de pertencerem a outra operadora, caso vertente a mcel.

Para terminar e como sugestão, é momento de unificar as forças em prol da nossa cultura, deixar de lado os apetites económicos e rixas publicitárias e apoiar a nossa cultura como um todo, porque já bastam tantas antenas de telefonia móvel que mostram esse sinónimo de desconfiança e separação entre as operadoras.

A par disso, pede-se um apoio cada vez mais forte do Ministério da Cultura e Turismo em prol da nossa cultura que não deve se cingir somente a música.

E mais não disse!

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