terça-feira, 9 de junho de 2015

1 de Junho como fonte de rendimento

A nossa indústria de música pode ser obsoleta, mas se há uma coisa de que tenho a certeza é que ela nunca fica alheia a qualquer efeméride para se aproveitar da ocasião e tirar algum proveito.

Foi assim no período das cheias, onde os músicos se esparramaram em espectáculos beneficentes, em que alguns desses eventos serviram para ganhar dinheiro.
Tem sido assim nos carnavais, onde se fazem festas em discotecas e cobram-se valores em nome do mesmo. Também tem sido assim em dias como 1º de Abril, sexta-feira 13, onde se inventam temáticas para simular a comemoração de uma data.

Mas o que me faz escrever este texto deriva do facto de me ter apercebido que tal como no ano passado, este ano (com algum vigor a mais) em nome do 1 de Junho muitos dos nossos músicos destacados fizeram os seus cachês em nome das crianças.

Ziqo fê-lo com outros artistas na cidade da Beira e Lizha James fê-lo também com outros artistas nacionais e internacionais na cidade de Maputo. Um dado curioso nestes dois eventos é que ambos contaram com o patrocínio de uma operadora de telefonia móvel, com a cobrança de 300 meticais pelo bilhete comprado antes e 350 no local, para Beira, e 350 antes e no local 400 meticais, para Maputo, e decorreram (ambos) no mesmo dia, 31 de Maio (domingo).

O facto é que de 1 de Junho só tiveram o nome. Foram-se os tempos em que no dia 1 de Junho comemorávamos na escola, com colegas, na formatura e com os nossos professores. Saudades dos tempos em que se ia ao Museu da História Natural, quando as crianças pintavam, visitavam outras escolas, passeavam pelos jardins, partilhavam suas marmitas e dia seguinte contavam a professora como foi o dia. Nas creches já não querem envolver os pais na organização, só se exige o valor por criança.

Anda por aí um ditado que alguém inventou e que diz que “o que é bom é para mostrar”. Já não se hesita em pedir boleia e dar os números de celular de pessoas desconhecidas. Reduzem-se o tamanho das saias de uniforme escolar e apertam as calças ao máximo possível de forma a decalcar o corpo.

Gabam-se entre elas que tem um “patrocinador”, fazem-se inveja com smartphones do último grito. De resto as letras e videoclipes desses artistas convidados para a festa das crianças mostravam bens materiais, dinheiro, bebida, cigarros, carros de luxo e mulheres

As crianças que não foram a esses espectáculos é que ficam a ganhar, porque festa de criança deve ter jogos e brincadeiras de criança, músicas de criança. Essas festas são (des)educativas, basta que analisemos as letras das músicas que as crianças ouviram

O nosso parque dos continuadores virou um centro de promoção de espectáculos e de banalidades. Onde estão os parques infantis?

Feliz mês da criança!

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