segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ainda sobre a greve dos médicos



Quando escrevi um artigo para este jornal na semana passado sobre o que eu pensava acerca da onda das greves que tem se feito sentir no nosso país, talvez eu não imaginasse a real repercussão destes movimentos, em particular no caso em epígrafe.

Contudo, este artigo não pretende dar razão aos sem razão, ou julgar e condenar quem quer que seja, muito menos dar explicações económicas ou da legalidade da greve como tem sido feito em diferentes canais de opinião pública.
Quero apenas levantar alguns pontos que penso serem relevantes reflectir sobre eles quando falamos desta greve.  Refiro-me primeiro ao facto de estarmos diante de dois direitos constitucionalmente plasmados que me parecem estarem em conflito, falo do direito a manifestação e do direito a vida ou a assistência sanitária, e por via disso penso que em primeiro ponto deve-se respeitar aquele que é o direito mais fundamental de qualquer ser humano, seja ele médico, polícia, professor, estudante, etc., afinal de contas só saudável posso reivindicar qualquer que seja o meu direito.

Ora, quando assisto a esta greve é evidente que o direito a vida aparece escamoteado pelo direito à manifestação ou reunião que não se pode sobrepor ao primeiro. Tem sido levantada aqui a questão do juramento de hipócrates para justificar alguns aspectos da greve, este elemento é  importante quanto a mim, mas o mesmo não deve ser analisado na vertente laboral de empregado e empregador, pois o mesmo  é uma espécie de compromisso que o profissional da saúde assumiu com seu cliente número um, que é o cidadão para o qual se dignou a servir quando decidiu ser o dono da bata branca. Assim, torna-se evidente que com esta greve estamos numa traição ao cidadão.
       Não pretendo em nenhum momento descredibilizar as reivindicações dos médicos, aliás, a pressão e manifestação não podem em nenhum momento serem vistas como uma afronta ao executivo, mas sim como uma forma de chamar a atenção a quem de direito para olhar por quem reivindica seus direitos, mas penso também que é necessário olhar para a capital e nobreza importância que a profissão dos médicos tem para a sociedade moçambicana. É preciso também reflectir que estamos num país que mesmo com a presença de todos os médicos nos hospitais o atendimento não tem sido dos melhores e o que se dirá quando estes não lá estiverem?
Esta greve pode em algum momento ter efeitos nefastos na relação entre o médico e os cidadãos, na medida em que os cidadãos podem ficar agastados com tudo isso e a partir daí não olharem se o governo é ou não culpado nisto, mas sim o médico passa de salvador a vilão porque o doente foi ao hospital e não lhe foi prestado o atendimento, ou em casos nefastos houve perdas de vida porque o médico não estava lá.

É minha opinião e de forma repetida que os médicos devem fazer um exame de consciência sobre os reais impactos que tem estado a ter esta greve para aqueles que olham para eles como seu Deus na terra, e só voltando à mesa de negociações junto do Governo sairemos deste pesado imbróglio.
Mais não disse.

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