Este
comentário pode estar em contramão com o que se vaticina nos últimos
dias sobre uma possível derrota do MDM no Município de Nampula nas
eleições de 24 de Janeiro de 2018. Quem argumenta que o MDM pode vir a
perder aquele Município possui as suas razões que podemos até considerar
bastantes, a partir dos últimos acontecimentos que nos chegam da
‘’capital do Norte’’.
Porém,
pretendo olhar para o ''outro lado da moeda'' que centra-se única e
exclusivamente na maneira como um eleitor faz o seu voto. Antes de
entrar nessa questão, é preciso lembrar que (por definição) podemos
dizer que uma eleição é uma incerteza, ou seja, as eleições ganham um
verdadeiro sentido quando não sabemos (de antemão) quem são os
vencedores da mesma.
Voltando
ao eleitor, um dos grandes debates na Ciência Política é tentar
perceber o que determina a escolha do eleitor no acto do voto? Quais são
os factores que podem fazer com que tal eleitor decida escolher este ou
aquele candidato/programa político? Vários estudos já foram feitos
sobre a matéria e se dissesse que há consensos sobre os mesmos estaria a
mentir. Contudo, temos que olhar para um aspecto que me parece ser
determinante para a eleições do próximo dia 24 de Janeiro: a questão
social.
Nesta
abordagem, os comportamentos e escolhas individuais devem ser
entendidos a partir do contexto social onde são praticados. O acto
individual, de voto, não é socialmente isolado. Deve ser entendido a
partir da noção de interacção social. É através das interacções sociais
que se formam as opiniões individuais, as quais, por sua vez, permitem
as tomadas de decisões de forma isolada. Portanto, é a totalidade das
relações sociais que está entre as características individuais e os
actos sociais, de modo que não é suficiente reduzir a explicação às
características pessoais.
Dito
de outra forma, precisamos perceber qual é o tecido social do Município
de Nampula e qual é a sua tendência para questão do voto neste momento.
Devemos olhar para a forma como cada partido político vai escolher o
seu candidato para que os grupos sociais específicos de Nampula
reconheçam os candidatos como tal e tomem consciência de sua própria
condição de grupo – “identidade interna” – e da condição do seu grupo no
contexto mais amplo da sociedade à qual pertence – “identidade
externa”. Por conseguinte, é necessário que os mesmos candidatos sejam
ideologicamente identificados com tais grupos específicos, especialmente
do ponto de vista dos interesses políticos, e que se afirmem e se
apresentem socialmente como tal.
Não
basta olhar para Nampula apenas sob o prisma das alucinações políticas
de Manuel Tocova, pode existir muito mais do que isso. Aliás, é possível
que toda a celeuma que acompanhamos em Nampula vire-se em favor do
próprio MDM que pode ser visto como ‘’coitado’’ do processo por via
daqueles que queriam orquestrar esta ''desorganização organizada'' para
‘’roubar’’ o Município de Nampula. Em política o que parece é, mas o que
é também pode não parecer – é preciso que os partidos que estão agora
na oposição pensem em alternativas discursivas para ganhar Nampula,
pois, optar pela diabolização do MDM corre-se o risco de ter uma
estratégia que reverterá contra os mesmos.
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