segunda-feira, 6 de abril de 2015

Moçambique tem os piores professores?


Um inquérito do Banco Mundial sobre a educação em Moçambique, apresentado hoje em Maputo, indica que o país tem o índice mais baixo ao nível da competência dos professores, comparado com outros cinco estados africanos.
"Do grupo de sete países que participaram na nossa análise, Moçambique tem, ao nível da competência dos professores, o nível mais baixo", disse Ezequiel Molina, pesquisador e economista do Banco Mundial, durante a apresentação do inquérito sobre os Indicadores de Prestação de Serviços (IPS) do sector da Educação.

Segundo o estudo, a pontuação média dos professores moçambicanos no teste de língua, matemática e pedagogia foi de 29%, o pior desempenho na comparação com o Quénia, a Tanzânia, a Nigéria, o Togo e o Uganda. O sétimo país constante do IPS, o Senegal, não foi analisado nos testes de competência. No teste da língua, os docentes moçambicanos identificaram apenas dois em vinte erros e, no de matemática, apenas 65% conseguiram subtrair 86-55.

"Em resumo, os alunos moçambicanos estão em desvantagem em termos de qualidade do serviço que recebem em comparação com os seus pares noutros países do IPS, o que se traduz em resultados significativamente menores do seu desempenho", conclui o estudo, assinalando que, à semelhança dos seus professores, os estudantes deste país tiveram também a pior pontuação nos testes, com uma média de 24%, contra uma média de 53% nos outros estados.

Apesar de considerar que Moçambique tem investido na eficiência do sistema educacional, Ezequiel Molina considera necessário mais apoio à classe dos professores, sustentando que é preciso também actualizar as competências dos pedagogos para melhorar o processo de ensino e aprendizagem. "Os professores não podem ensinar sem saber e as crianças não podem aprender sem professores competentes", afirmou Ezequiel Molina.

O estudo demonstra que Moçambique teve um fraco desempenho no que respeita à presença dos professores na sala de aulas, indicando que, em visitas não anunciadas, 45% estavam ausentes, uma situação agravada também pela falta de comparência dos próprios directores das escolas.

"O resultado é que os alunos apenas recebem uma média de uma hora e 41 minutos de ensino por dia", segundo o documento, ou, "em 190 dias de aulas, apenas recebem, de facto, 74 dias de aulas". Associado à falta de competências e à ausência dos professores, o estudo destaca também a alta taxa de absentismo dos alunos nas escolas moçambicanas.

"Apesar de termos, em média, mais de 40 alunos matriculados por turma, apenas 17% deles comparecem às aulas", disse Ezequiel Molina, referindo que absentismo é mais frequente no centro e no norte de Moçambique, onde a situação da Educação é pior.

Apesar dos problemas apresentados, o pesquisador considera que Moçambique está num bom caminho, destacando que, comparativamente com os outros estados, o país dispõe de mais equipamentos, o que facilita o processo de ensino e aprendizagem.

"Quase 75% das escolas que foram analisadas tinham os materiais necessários, os alunos tinham cadernos e canetas, e 69% das crianças tinham livros escolares", afirmou. O pesquisador sugere que Moçambique intensifique acções para melhorar o sector da Educação, esperando que, nos próximos dois anos, o país registe melhorias nos problemas apontados. "O nosso objectivo é divulgar estes dados para que os países em estudo possam melhorar o sector da Educação", disse.

A pesquisa, que foi realizada entre Março e Junho de 2014, envolveu 1.006 professores e 1.731 alunos de 200 escolas moçambicanas. O IPS é um programa desenvolvido pelo Banco Mundial, o Consórcio de Pesquisa Económica Africana (AERC) e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), cujo objectivo é analisar a qualidade da prestação de serviços básicos nos países africanos.

Veja aqui o inquérito.

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