segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Mas de que juventude estamos a falar?


Sob o lema ''Espaços seguros para a Juventude'', vários países e organizações celebraram no presente ano (2018) o Dia Internacional da Juventude.

Desde 2012 tenho me interessado por questões sobre a juventude, com particular aprofundamento nos últimos dois anos através de um prisma académico sobre assunto. Mais do que ter certezas, encontro-me numa controvérsia, pois continua difícil para mim discutir sobre o que chamamos de ''juventude''.

Alguns países e organizações internacionais vão caracterizar a juventude em termos de idade biológica, variando entre 15 aos 35 anos (Carta Africana da Juventude) - 15 aos 24 anos (Nações Unidas) - ou ainda 15 aos 35 anos (Política Nacional da Juventude).


Outras visões vão refutar tal posição, afirmando que o debate sobre o termo juventude deve ser entendido apenas como um processo transitório que passa entre o que chamam de adolescência para uma fase adulta, afirma Galland (2009).

Honwana (2012) vai nos propor um conceito de juventude que supera as barreiras de idade para abraçar um conjunto de elementos antropológicos e sociais mais abrangentes. Para ela, a juventude vai deixar de se definir pela idade para abarcar "todos aqueles que não atingiram ainda as expectativas e obrigações sociais esperáveis de um adulto, independentemente da sua idade''. Tipifica essa fase da juventude excluída do mercado de emprego como waithood (termo dificilmente traduzível para português) - por oposição a childhood e adultohood".

Na mesma lógica de Honwana (2012), Muxel (2013) vai sustentar que deixamos de ser jovens quando obtemos condições de vida que nos possibilitam ter autonomia e liberdade de escolha sobre o rumo que queremos tomar, fundamentalmente quando conseguimos obter maturidade política do voto.

Para combinar a dimensão biológica e social do termo, Abbnik (2005) vai afirmar que são jovens todos aqueles que até a faixa dos 30 anos de idade ainda procuram terminar os seus estudos, não tem um emprego estável e ainda não constituíram uma família.

Num prisma virado ao continente Africano, Mbembe (1985) vai sublinhar que os jovens são de forma constante confrontados com estruturas sociais e políticas que os classificam como indivíduos de conduta desviante e duvidosa, razão pela qual a sua emancipação é adiada com discursos triunfalistas e políticos como ''jovens, o futuro do amanhã...o garante da nação''.

Não havendo uma única resposta, a questão se vai manter: o que significa ser jovem?

REFERÊNCIAS:
  1. Abbink, J. (2004), Being young in Africa: The politics of despair and renewal, Leiden: Brill, 2004.
  2. Galland, O. (2009), Les jeunes, La Découverte, Paris.
  3. Honwana, A. (2013), The Time of Youth: Work, social change and politics in Africa, Oxford: Kumarian Press.
  4. Mbembe, A. (1985), Les jeunes et l'ordre politique en Afrique noire, L'Harmattan, Paris.
  5. Muxel, A. (1996), Les jeunes et la politique, Hachette Livre, Paris.

Sem comentários:

Enviar um comentário