quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Comentário de um gajo ‘’RESILIENTE’’

Antes mesmo de entrar no cerne do presente comentário, cabe-me destacar o termo que mais dominou a intervenção do Presidente da República no seu informe sobre o país: RESILIÊNCIA.

Geralmente, resiliência é um conceito emprestado da física que significa ‘’(...) a capacidade do indivíduo em lidar com situações adversas, superar pressões, obstáculos e problemas, e reagir positivamente a eles sem entrar em conflito psicológico ou emocional.’’

Dizem as minhas leituras que o principal objectivo da resiliência não é restaurar o passado, mas propiciar condições de dar um salto para frente. É a habilidade de manter o seu propósito enquanto você se adapta a novos métodos e procedimentos.

Colocado isto, é preciso perceber nas entrelinhas que o Presidente da República admitiu (de forma indirecta) que conhece o sofrimento de miséria e pobreza aguda provocada pela sua governação e que assola milhares de moçambicanos, razão pela qual chamou-lhes ‘’resilientes’’, algo como: ‘’(...) vocês já levaram tanta porrada, mas continuam em pé e firmes.’’

Sempre que se fazem esses discursos sobre o Estado da Nação torna-se o mesmo de sempre, devido ao modelo e métodos monótonos utilizados para o efeito. A inexistência de debate e interpelação sobre o que é dito pelo Chefe de Estado esvazia o sentido e a essência do discurso.

Ademais, é notório a premente preocupação que se criou de uns anos para esta parte ligada ao facto de se procurar nos adjectivos a essência do que se diz (ou não disse). Ou seja, tornou- se viral o destaque de termos como ‘’BOM’’ ou ‘’MAU’’ – hoje substituídos por ‘’RESILIÊNCIA-DESAFIADOR-ENCORAJADOR’’,, em vez da discussão sobre o que realmente nos preocupa como nação.

Como cidadão, tenho dificuldades em fazer o descasque do que foi lido pelo Presidente da República, devido aos factores metodológicos e de forma acima referidos.

Para terminar, foi notório o ‘’golpe político’’ aplicado pelo Presidente da República que também é Presidente da Frelimo ao anunciar o pagamento do décimo terceiro salário no mês de Janeiro em plena quadra festiva.

É preciso lembrar que este discurso é emitido numa época em que se os principais partidos do país (Frelimo, Renamo e MDM) se preparam para as eleições intercalares de Nampula (24 de Janeiro 2018), no mesmo ano que o país vai realizar as eleições autárquicas, antes das gerais (2019).

Anunciar o pagamento do décimo terceiro salário foi típico de uma estratégia de ‘’marketing político e eleitoralista’’, pois, sabe-se que é a partir dos funcionários públicos que o Estado se abastece em momentos eleitorais e a sua insatisfação pode trazer dissabores para o partido-Estado.

Outrossim, ficou-se com a errada impressão que aquele anúncio fosse um favor ou prenda do ‘’pai natal Nyusi’’, esquecendo que é atribuição do Estado pagar o décimo terceiro salário e não é nenhum favor como se tentou apregoar.

Sem comentários:

Enviar um comentário