Quando escrevi um artigo para este jornal na semana passado sobre o que eu pensava acerca da onda das greves que tem se feito sentir no nosso país, talvez eu não imaginasse a real repercussão destes movimentos, em particular no caso em epígrafe.
Quero apenas levantar alguns pontos que penso serem relevantes reflectir sobre eles quando falamos desta greve. Refiro-me primeiro ao facto de estarmos diante de dois direitos constitucionalmente plasmados que me parecem estarem em conflito, falo do direito a manifestação e do direito a vida ou a assistência sanitária, e por via disso penso que em primeiro ponto deve-se respeitar aquele que é o direito mais fundamental de qualquer ser humano, seja ele médico, polícia, professor, estudante, etc., afinal de contas só saudável posso reivindicar qualquer que seja o meu direito.
Ora, quando assisto a esta greve é evidente que o direito a vida aparece escamoteado pelo direito à manifestação ou reunião que não se pode sobrepor ao primeiro. Tem sido levantada aqui a questão do juramento de hipócrates para justificar alguns aspectos da greve, este elemento é importante quanto a mim, mas o mesmo não deve ser analisado na vertente laboral de empregado e empregador, pois o mesmo é uma espécie de compromisso que o profissional da saúde assumiu com seu cliente número um, que é o cidadão para o qual se dignou a servir quando decidiu ser o dono da bata branca. Assim, torna-se evidente que com esta greve estamos numa traição ao cidadão.
Não pretendo em nenhum momento descredibilizar as reivindicações dos médicos, aliás, a pressão e manifestação não podem em nenhum momento serem vistas como uma afronta ao executivo, mas sim como uma forma de chamar a atenção a quem de direito para olhar por quem reivindica seus direitos, mas penso também que é necessário olhar para a capital e nobreza importância que a profissão dos médicos tem para a sociedade moçambicana. É preciso também reflectir que estamos num país que mesmo com a presença de todos os médicos nos hospitais o atendimento não tem sido dos melhores e o que se dirá quando estes não lá estiverem?
Esta greve pode em algum momento ter efeitos nefastos na relação entre o médico e os cidadãos, na medida em que os cidadãos podem ficar agastados com tudo isso e a partir daí não olharem se o governo é ou não culpado nisto, mas sim o médico passa de salvador a vilão porque o doente foi ao hospital e não lhe foi prestado o atendimento, ou em casos nefastos houve perdas de vida porque o médico não estava lá.
É minha opinião e de forma repetida que os médicos devem fazer um exame de consciência sobre os reais impactos que tem estado a ter esta greve para aqueles que olham para eles como seu Deus na terra, e só voltando à mesa de negociações junto do Governo sairemos deste pesado imbróglio.
Mais não disse.
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