O título deste texto surge a propósito de duas situações que marcam o
debate público nacional: (1) O processo da compra do Banco MOZA por
parte do Fundo de Pensões do Banco de Moçambique e (2) A aquisição de
novas viaturas para os membros da Comissão Permanente da Assembleia da
República.
Sobre a questão do MOZA parece estar evidente que
estamos perante um conflito de interesses, visto que temos uma
''entidade camuflada'' que vai fazer um
duplo papel no mesmo jogo: árbitro e jogador. Sobre este capítulo pouco
me resta acrescentar, o que a mim me preocupa é a forma como o Banco de
Moçambique comunicou com o público em relação a este caso.
Depois
de emitir um comunicado pálido e vazio a dizer que ‘’(...) Os passos
dados e que indiciam, para muitos analistas, violação da lei e ética,
foram superados por uma decisão superior de gestão...’’, até hoje não se
dignou a explicar em detalhe os contornos da aquisição do MOZA, apesar
dos questionamentos recorrentes. Ou seja, o BM prefere que se fique na
especulação ou que a Comissão Central de Ética Pública se pronuncie
sobre tal.
Sobre as novas viaturas para os Deputados, não estou preocupado em discutir se a compra é legítima/oportuna ou não, mas sim comentar sobre a forma como o porta-voz do Ministério da Economia e Finanças, Rogério Nkomo, veio explicar este caso.
Confesso que fiquei boquiaberto ao ouvir o que ele (porta-voz) disse, passo a citar: ‘’(...) Como devem imaginar, o nosso Orçamento (2017) é volta de 172 MIL MILHÕES de Meticais, não vão ser uns 228 MILHÕES de Meticais que vamos calcular o seu peso, vão ser 0,00000 não sei quantos...’’. [ver vídeo].
Ou seja, para o senhor Nkomo e o seu Ministério, o dinheiro público não é problema neste momento porque o custo da compra dos Mercedes representa praticamente nada no bolo orçamental deste ano. Ademais, esse valor em termos numéricos são só uns ‘’zerrinhos’’ que pouco impactam a estrutura económica nacional. Eu não sabia que uma verba de 228 Milhões pode ser considerada um dinheiro fácil em tempo de crise e de aperto orçamental.
Não haveria aqui uma outra forma de comunicar isto ao público? Terá sido claro nessa sua explicação? Dar o corpo para levar todas as balas deve ser constrangedor, ser porta-voz é uma função ingrata e penosa, pois, tenho dúvidas que o senhor Rogério Nkomo estivesse a dizer aquilo de sã consciência.
Por vezes as nossas instituições públicas podem ter decisões correctas, mas comunicam extremamente mal. Nota-se que há um grave problema numa situação de comunicação de crise nas nossas instituições públicas: não existe antecipação aos problemas; não há agilidade na reacção; a qualidade informativa é uma lástima e a veracidade deixa muito a desejar.
Os casos acima acontecem numa altura em que a assessoria de imprensa das instituições públicas esteve recentemente reunida, algures na província de Maputo, para discutir soluções de como comunicar com eficácia.
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